Gustavo & Thais |
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Mais Um Blog Besta que Ainda Vai Servir Pra Alguma Coisa Os Caras-Palidas que se cuidem...
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quinta-feira, agosto 28, 2003
Havia acordado com uma puta ressaca, uma vontade de cagar e com o meu anelar direito misteriosamente doendo. Não tinha dormido em casa. Dormi no apê da minha excelentíssima, ela deu uma festinha na noite de ontem para comemorar que estava se mudando de apartamento, então bebi algumas cervejotas a isso. Acordamos cedo, pois que a minha garota não tem tempo para escrever palavras ao vento. Ela é engenheira, tem um emprego, conta no banco, dívidas e hora pra chegar. Espero com ela sua carona para o trabalho chegar e parto de volta para casa. O 457 já estava saindo do ponto, ali na boca do Sta. Bárbara, mas foi solidário comigo, meu dedo que ainda dói e minha ressaca. Subi no coletivo, passei pela roleta e vi que não havia assento disponível. Mal. Mas o ônibus não estava cheio, havia esperança, eram apenas oito da manhã de uma quinta-feira nublada e ainda havia esperança. Abri a minha carteira. Nem um mísero puto, nada, só o feno rolando com o vento e um velho blues ao fundo. Minto, havia duas moedas enferrujadas de cinco centavos e um endereço com telefone. Não, não era o telefone do Lula, estava redondamente fodido. Pânico. Deixei rolar, afinal o coletivo já havia ultrapassado o túnel Sta. Bárbara, descido rumo à Pres. Vargas e a trocadora se entretinha com as notícias do Extra. O segredo dos bons devedores é a imagem. Construa uma imagem de sucesso e o resto simplesmente acontece, não é tão complicado, basta concentração. Pensei num gato chamado McIntosh que um ex da minha atual possuía e era dotado de espírito de porco, capaz de acordá-la diariamente com uma mordida no dedão do pé porque era ela quem o alimentava e ele, o gato, detestava depender de terceiros para sobreviver. Ajudava a relaxar. Eu ali de pé próximo da trocadora observava o movimento interno do automóvel. Aos poucos ia esvaziando, e ela nem fazia menção de me cobrar a passagem, o Extra devia estar interessante mesmo, cheio de notícias fresquinhas. Um senhor gordo, careca e de bigodes me olhava e ria obesamente. Então vagou um banco próximo a porta de trás, perto da saída. Tensão. Reforcei minha imagem de sucesso, lembrei da Guinness Stout que havia bebido na noite anterior, nos beijos que a minha engenheira dava ao me ver e esbocei um sorriso de gente que pagou a passagem. O Extra continuava interessantíssimo, afastei-me lépido feito o McIntosh e me sentei. Agora planejava minha fuga. no ponto da estação seria um bom lugar, sempre descia e entrava bastante gente. Só que o ônibus estava vazio e poucos precisavam se deslocar em direçào à Abolição naquela hora da manhã. Não queria precisar fazer sinal para descer sozinho do carro, seria abusar da minha faceirice. Poderia despir o blusão como disfarce, mas a camisa abóbora não era exatamente discreta. Estava preso por um real e quarenta centavos. Maldita pizza de calabresa que pedimos ontem para acompanhar mais um naufrágio rubro-negro na tevê. Então o trânsito engarrafou próximo ao Salgado Filho. Levanta um, levanta dois, levanto eu. Enfio-me no meio da multidão, clandestino. O motorista abre a porta, descemos todos. Joe Strummer e Johnny Cash me aguardam na outra calçada com seus violões. Eu violei a lei, mas desta vez venci. |