Gustavo & Thais

sexta-feira, julho 25, 2003
 
Esse aqui é o verdadeiro espírito de Seattle.

"Aê, putada. Ontem, 24/07/2003, eu tive a minha carta de alforria
assinada. Aguardo apenas o processo burocrático que quebrará em definitivo os
grilhões que ainda prendem o Lobo àquela unidade da UFRJ. Aprovado, deixo
de ser estudante e passo a engordar a lista dos filhos da puta deste
país. Aí eu faço um rápido levantamento da minha vida na ECO.

Nunca fui academicamente responsável. Nunca fui de freqüentar de sala
de aula. Nunca deixei de jogar sueca pra entrar em sala. Nunca deixei
de ir a festinha por causa de aula no dia seguinte. Nunca me preocupei
com nota. Nunca pelei saco de professor. Meu CR nunca saiu do "7,
aluma coisa". Sempre fiz trabalho na véspera da entrega.

Meu projeto experimental foi aprovado com nota máxima. Foi elogiado
pela banca examinadora. Meu CR deve subir pra 9.

Moral da história: Não deixe que os estudos atrapalhem a sua faculdade.

[]'s"

segunda-feira, julho 21, 2003
 
Por que não trabalhar
Então, você manda um mail, e ouve de sua mãe mais uma vez que escreve bem e blablabla. Você ouviu isso a vida inteira. Desde o coleginho francês, com suas redações sobre Inspiração, Neve, Nascer com 80 anos e regredir, etc, etc.. Suas professoras de primário liam suas redações em voz alta, como as melhores da classe.

Mais tarde, ainda no colégio, você recebe elogios dos professores, verbais ou escritos na sua própria redação. Quando o vestibular se aproxima, todos dizem que comunicação é uma boa, ou então letras, já que vocês escreve bem, tem fluência e tudo mais. E nisso se passaram uns 17 anos.

Eis que você entra pra faculdade e, surpresa!! Nenhum dos textos que você é obrigada a escrever têm minimamente a ver com o que você escreveu a vida inteira. Nem quanto ao estilo, muito menos conteúdo.

Os elogios acadêmicos cessam e são substituídos por notas, às vezes boas, às vezes razoáveis.

Quando você entra para seu primeiro estágio, aparecem algumas matérias imensas sobre música. Então você consegue exercitar uma escrita menos mecânica, sobre um assunto interessante. Expressa mais a sua subjetividade. Então te elogiam na redação; você escreve um review sobre um disco da Tori Amos e também te elogiam fora da redação.

Ótimo. Então já dá pra chegar a uma conclusão. Você não será tão boa nas páginas da imprensa quanto dizem que é nos textos mais livres e subjetivos. Sem problemas.

Então você tem a sua frente um mail em branco. Você está absolutamente lotada de palavras que não foram expressas no dia anteior, e estão para serem destinadas a uma pessoa há meses. O que você faz?

Escreve. Escreve mesmo. E lapida tudo, porque a questão é séria e incomoda você há muito tempo. E com o trabalho terminado, mostra pra sua mãe, pra saber se você está pegando muito pesado. Sua mãe diz que não, e mais uma vez elogia o que você escreveu, a facilidade para se expressar, etc e tal.

Realmente, foi um mail feliz. As palavras serviram muito bem a você. De vez em quando, você e elas, têm estes encontros. Você consegue manipulá-las com muita precisão, de modo que seja possível manifestar quase 100% do que pretende. Você e elas trabalharam quase no mesmo compasso, porque a perfeição deste encontro é uma utopia.

Eis que você manda o mail. Não espera uma resposta tão cedo porque não é do feitio da pessoa abrir sua caixa-postal todos os dias, como você e todos os seus amigos. Além do mais a pesssoa vai estar ausente. Desta vez da cidade.

Pois bem, você chega no trabalho e está lá, na sua caixa-postal, menos de 24 horas depois de você ter mandado o mail: endereço da pessoa.......RE:assunto.

Surpreendente. Por essa você não esperava. Pois bem. Abre o mail. E maior que a surpresa do bom encontro entre você e as palavras, maior que a surpresa de uma resposta tão cedo, chega a surpresa acachapante: seu mail lapidado, resultado daquela maravilhosa interação entre você e as palavras, que geralmente mobiliza as pessoas, eleva o nível da intareção com elas, traz revelações, elogios, emoções... Este seu mail é respondido com parcas palavras, todas já ditas anteriormente, que não acrescentam ABSOLUTAMENTE NADA no imbróglio emocional em que você se encontra. Além disso, a pessoa diz que, depois de ler o seu mail, chegou a uma conclusão completamente óbvia, a qual ela já havia chegado muito antes, e você sabe disso. Ou seja, nenhuma novidade.

Nenhuma novidade depois daquele encontro entre você e as palavras, que volta e meia lhe proporciona novas descobertas, às quais você não chega apenas pensando, mas alcança quando escreve ou fala em voz alta.
E você quase nunca mostra isso pra ninguém, e quando mostra, dá no que dá.

Como dá pra perceber, é uma história que começa há muitos anos, e quando atropelada por estas situações, fica mesmo difícil trabalhar.

 
A arte de ser enfadonha
Sim meus caros, posts grandes pra vocês não lerem. Posts grandes e cheios de indignação, decepção, revolta e frustração, como sempre presentes no nosso cotidiano. Se quiserem ver mais um blog com conteúdos grandes e idênticos ao meu, vão em http://tonnerres.blogspot.com, e percebam como o mesmo mundo realmente pode ser visto de formas iguais por duas pessoas diferentes. Eu e a menina que escreve lá. Apesar de anos presa aos cálculos dan faculdade de Química, ela escreve direitinho e fala uma língua que eu entendo muito bem.

 
Ei pessoa!
Preciso trabalhar
Queridos fantasmas, preciso trabalhar
Não posso me colocar em risco tão cedo


Não estou preparada para estes hiatos, que se prolongam como um inferno, mesmo que durem poucos dias ou horas. Sim, meu timing é acelerado. E sim, acontece que eu sou humana, e ainda não cheguei no estágio ermitão de não precisar de pessoas. Reproduzo aqui um trecho do Drummond que vi no blog da Lígia, que diz tudo em poucas palavras, geralmente como os bons escritores costumam fazer.

“...Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos”


Eu quero minha Finest Hour!!!
Queria então estar cercada de pessoas de timing acelerado, com assuntos aparecendo e se desdobrando em horas de um mesmo dia, sem deixar nada pro dia seguinte. Sem esperar pra completar um pensamento, expressar uma idéia até os dias seguintes, quando na maioria das vezes, eles estão muito afastados do presente.

Michael Stipe, do R.E.M, outro brilhante nas letras, dá a receita da hora das definições, da hora de pegar os instintos pelas rédeas e resolver as coisas. Pra mim, é o que ele descreve como Finest Hour

The time to rise has been engaged
You're better best to rearrange
I'm talking here to me alone
I listen to the finest worksong
Your finest hour

Another chance has been engaged
To throw Thoreau and rearrange
You are following this time
I beg you not beg to rhyme (blow your horn)
Your finest hour (blow your horn)

Take your instinct by the reins
Your better best to rearrange
What we want and what we need
Has been confused been confused (blow your horn)
Your finest hour (blow your song)


 
Vida adulta???
Atualizando o blog no trabalho?? Atualizando o blog no super trabalho novo? E daí? Tudo continua na mesma. Ainda tenho que escrever em horas em que não deveria, ainda me ocupo com o excesso, com o que não deveria me ocupar.
Há muitas pessoas que não deveriam estar mais aqui. Não deveriam estar mais em lugar nenhum das profundezas do meu cérebro. Saíram da minha vida, por opção, por exaustão ou estão ausentes há muito tempo, querendo voltar sem que seja possível.

E mais uma vez, mesmo tantos anos depois, ainda não sei como conciliar a desconcentração dos distúrbios da minha cabeça com o maldito trabalho formal, antes representado por livros de biologia, folhas de geografia, exercícios de matemática. E agora com a chegada da vida adulta (uau!!), grandes merda, nada mudou. As obrigações acadêmicas foram substituídas por pesquisas sobre a Ópera do Malandro, sobre o escândalo da Previ, e até bem pouco tempo sobre novos softwares de áudio, microfones, entrevistas com cenógrafos, etc, etc..

Enfim, volta e meia preciso trabalhar e não consigo, por impossibilidades internas.
E depois de tantos anos, já na vida adulta (uau!! de novo) continuo agindo como se tivesse 13 anos. em vez de papel e caneta no meu caderno de espiral, bato rápido no teclado do trabalho, o que faz meu colega aqui do lado perguntar se estou com raiva do próprio teclado. Quem dera.

Uma decepção é substituída pela outra com intervalos regulares, desde que me entendo por gente, ou seja, há uns 13 anos. A pausa poderia ser mais longa. Ou estas pessoas poderiam não desembarcar na minha cabeça enquanto durmo. Ou poderiam não me fazer perder tempo com escritos inúteis enquanto estudava pra uma prova ou faço uma apuração no trabalho.

Nada mudou. Como já conversei com a colega de EFE, sócia da Agência e companheira de desânimo em relação a Ecargh, a idade audlta ainda não chegou. Ainda nos sentimos totalmente teen, talvez no pior sentido da palavra, nque nada tem a ver com descobertas idiotas sobre a sexualidade, os novos prazeres da vida e todo aquele blablabla que parece ser encantador e não é. Não tem nada a ver com a realidade do que aconteceu na década de 90 e se mantém na virada do século.

Um exemplo
Tudo é o mesmo. Acabo de lembrar o show de Milton Nascimento de 97, no Metropolitan. Era domingo, o mundo estava em choque pelo falescimento de uma celebridade e de alguma forma aquilo me afetou. Eis que aparece o Milton no palco, com todas aquelas músicas que fizeram parte da minha vida, e que eu não ouvia há um tempo, ressuscitado. Forte apelo visual e sobretudo musical. Fumei meu primeiro cigarro depois de meses sem fumar, desde 96. E chorei copiosamente durante todo o show, sem pausa.

E eu tinha uma prova casca-grossa de geografia na quarta. Milhares de folhas, resumos e tudo o mais pra ler. Ou seja foda-se se você não está bem de cabeça, se você quer ouvir música, se você está pensando em outra coisa além de explosão da população, Malthus e o caralho a quatro. O jeito é estudar. E ,foi o que eu fiz, mas faltei a escola no dia seguinte, ficar ouvindo Smiths em casa e escrevendo feito uma louca. Pra quê? Pra nada. Pra continuar agindo assim seis anos depois.



Uma das minhas soluções pra manifestar minha indignação com a situação à qual eu estava submetida foi deixar um recadinho na prova. Ele sempre foi muito pertinente nestes momentos em que não cabe nenhum trabalho formal, mas apenas escreverm, ouvir música ou falar com uma pessoa. E ironicamente, o recadinho serve em uma situação estreitamente ligada com aquela prova, tanto tempo depois.
John Lennon, sempre com muita propriedade...

Please, don't spoil my day, I'm miles away
And after all I'm only sleeping
Please, don't wake me, no, don't shake me
Leave me where I am - I'm only sleeping

Everybody seems to think I'm lazy
I don't mind, I think they're crazy
Running everywhere at such a speed
Till they find there's no need (there's no need)