Gustavo & Thais |
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Mais Um Blog Besta que Ainda Vai Servir Pra Alguma Coisa Os Caras-Palidas que se cuidem...
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sexta-feira, julho 11, 2003
Este poema aqui tem uma história bonita e com um final triste. Mas eu gosto dele. Feito com açúcar e com afeto. Não sou o Chico (Leandro Godinho) Te prometi o mundo. Nada mais, nada menos. O mundo, todas as cores, todas as letras e mais alguns beijos agridoces entremeando crimes de guerra. E meu mundo era só promessas, ligações perdidas, cartas mal escrivinhadas e outros pecados veniais. Estes versículos tentam desajeitadamente camuflar uma vergonha e, soltos assim no papel, em seus olhos, ante seus óculos, de nada irão resolver, só lhes restando esconder-se por trás da vergonha que tenho dessas mãos que maculam a literatura e impuras ousaram te acariciar os lábios. E eu, com meus lábios secos, meus dentes brancos, meu hálito ácido e meu sorriso amarelo desengano, rodopio, desgarro. Deixo a chuva me levar e vou me apagando feito a noite, um sonho engraçado, uma travessura de fim de tarde que a memória e as rotações terrestres e outros lábios vindouros hão de cicatrizar. E, afinal, nada se finda, tudo se transmorfa. O mundo, não poderei te dar, e estou sem fundos. Talvez as luas e as estrelas e os anjos que te costurei não desbotem com o tempo, e continuem velando tuas noites e te protegendo dos raios e trovoadas em madrugadas tempestuosas. Quanto a este poema, meu bem, só posso te fazer o favor de logo terminá-lo, pois que sou menino tolo em letrações e quem nasce pra Leandro Godinho nunca vai chegar a Bob Dylan. Chore não, pequena, mas a verdade é que eu não sou o Chico. quinta-feira, julho 10, 2003
Palavras são bichos engraçados. Vão fazendo morada dentro da gente a cada livro que se lê, a cada música que se ouve, a cada conversa que se madruga e nos convidam o tempo todo a jogar com elas. Tem gente que faz pouco caso das palavras, e simplesmente as deixa enclausuradas num canto que vai empoeirando, esquecendo-se e de repente quando precisa delas, onde elas foram parar? E tem gente que não deixa que elas fujam da vista. Pessoas não conseguem viver sem a companhia delas, sem senti-las vivas por perto palavreando durante o sono, o café da manhã ou o silêncio do gozo. Acabam ficando viciadas em palavras, dependentes de suas artimanhas. Eu sou assim, confesso. Quando fico sem palavras, me sinto mal, me sinto mais do que nu. Subitamente vazio, broxa e descartável. E as palavras têm muito disso: de gostar de nos desnudar em público, de brincar de se esconder. Como se elas agissem em conluio. Você combina tudo bonitinho com elas e um segundo antes elas somem. Você fica pálido, e então sai à cata delas, uma a uma e por vezes consegue se sair bem. E quando alguém te mostra um sorriso por conta de suas palavras, de como elas são elegantes, ou simpáticas, ou cruéis, ou sarcásticas – em suma, vivas – por mais que se disfarce, você irá se sentir recompensado de alguma maneira. Tem gente que de tanto conviver com palavras acaba por considerá-las também seres, dotados de vontades e ocupantes de lugar no espaço. E as palavras são eloquentes por natureza, elas exigem voz, precisam de brilho e um local legível. Estamos agora falando de seres que nos habitam e vão copulando infinitamente conforme nós seguimos a vida, copulando ou não. Agora parem pra pensar no que é essa doideira toda dentro de sua cabeça, as palavras em gangues gerando aquilo que você no final das contas vai assumir o que é (pois as palavras são, de certo modo, suas). Se você, amigo trabalhador, amiga dona-de-casa, for como eu – maluco – e der alguma relevância para a sua própria cabecinha, você acabará selando um pacto com elas em troca de um mínimo de paz que te deixe dormir ou observar a sua vizinha gostosa tomar sol na varanda. É daí que eu preciso escrever. Escrevo porque leio. Vou deixando as palavras aqui dentro resolverem o que querem da vida e quando elas se impacientam demais com a minha preguiça, deixo que elas saiam e adquiram brilho próprio. Funciona como uma troca justa a nossa relação: elas me ajudam a respirar em paz e eu as ajudo a viver completamente, pois que as palavras só vivem quando ditas. E do mesmo modo que elas se aprumam todas com os mais variados nuances para se enamorarem dentro de mim, eu trato de fazer o melhor possível para que elas saiam bem na foto. Então, eu tento as desenhar da maneira mais bacana possível aos olhos de vocês, queridos. Pois que sem elas, como eu já devo ter dito, fica complicado demais olhar o vazio entre as estrelas. segunda-feira, julho 07, 2003
O porre nem tinha passado e a cabeça já doía prenunciando a manhã de sábado. Fiquei vendo a menina entrar no táxi e me sorrir um adeus com gosto de despedida, e o carro se tocando para a São Salvador com ela dentro e eu no meio da calçada. Vamos logo, rapá, tá chuviscando! O táxi logo desapareceu dali, dos meus olhos e ficou só a voz dela encostada no meu ombro e inventando um sotaque para me chamar pelo nome. Fui atrás do grupo de amigos, silencioso, tentando andar em linha reta e ouvindo seu sotaque novo me chamando a cada esquina. Em um dado momento o grupo que caminhava à minha fronte seguiu para a direita. Eu me despedi deles, e tomei meu rumo na direção oposta. Procurava pela maldita São Salvador e só encontrava táxis vazios cruzando as ruas. Onde ela estaria agora? Fumando outro de seus Gudangs extra-fortes numa janela qualquer me esperando passar? Vomitando a noite embebedada numa esquina da vida? Simplesmente dormindo o sono desesperador de quem passa a noite acordado demais? Estava decerto longe de mim, nalgum canto onde nem meus braços e nem meus lábios a tocariam. Eu podia sentir a fadiga tomando conta de mim conforme o dia nublado ia se fazendo manhã. Sentia a barba crescendo lentamente, incomodada pelo suor no rosto. Escutava cada músculo das pernas implorando que eu descansasse num recanto qualquer, e me maldizendo por eu não ter entrado naquele táxi que a levara para a São Salvador. Ela devia dormir ronronante feito uma gatinha sem-teto, eu a abraçaria, recitaria sonetos, diria alguma firula envolvendo seus seios, seu sotaque ou o mar de rosas que era o seu corpo junto ao meu e então dormiríamos clandestinos e sujos e bêbados e com o cheiro do pecado em nossas bocas. Talvez ela beijasse como Cleópatra diante da serpente, mas nada disso eu poderia saber. Só sabia que não deveria estar caminhando no meio da rua para não perder o ônibus. E que ela já ronronava macio sob alguma estrela tardia na São Salvador. |