Gustavo & Thais

sábado, abril 12, 2003
 
Finalmente um teste que dá certo....

He he, muito bom... É isso mesmo...

Abby!
Abigail Lockhart


Which ER Character are you?
brought to you by Quizilla


quarta-feira, abril 09, 2003
 
Um homem muito mais velho e infinitamente mais sábio do que eu certa vez afirmou publicamente que a ferrugem nunca dorme. Não apenas afirmou como cantou pelo mundo afora, empunhando seu violão como pouquíssimos homens saberiam fazê-lo. Homens (e mulheres) como ele fizeram do rock algo mais do que uma canção de três minutos que toca no rádio e é substituída por outra parecidíssima após dez minutos de intervalo comercial e blableblibloblu.
Um desses sujeitos morreu tem nove anos em condições obscuras. Apareceu num acorde de guitarra e se findou sem fade out, de súbito, deixando apenas algumas microfonias arranhando os ouvidos da platéia a pedir bis. Kurt Cobain se foi faz quase uma década e me deixou envelhecendo sozinho no mundo. E me dar conta disso assistindo a programação da MTV não deixa de ser justo e irônico, quase poético. Uma loira dentro de uma camiseta do Mickey Mouse sorridente cantarolando “About a Girl” e me lembrando que aquele cara que por vezes (e várias vezes) salvou o meu dia tocando toscamente aquela velha guitarra enferrujada de lixo e fúria já estava morto faziam nove breves anos.
E eu me lembro como se fosse agora de estar sentado ao lado do caçula no sofá da sala, vendo a MTV e de repente a introdução de “Smells Like Teen Spirit” transborda da tela e um sorriso raro se desenha em meus lábios. Eu não havia sido tocado assim por uma música desde que havia comprado meu cassete do “Appetite For Destruction” por conta de “Paradise City” ou ouvido Renato Russo perguntar quem guardava os portões da fábrica. Já fazem doze anos que eu sintonizo a televisão na MTV esperando o clipe de “Smells Like Teen Spirit” passar de novo e me cativar com aquela rebeldia de plástico industrialmente composta para seduzir um moleque de treze anos e fazê-lo crer que um bando de cabeludos maltrapilhos daria algum sentido à sua vida.
Sentido talvez eles não tenham dado, mas certamente me indicaram algumas direções. Graças a eles, me interessei por muitas coisas e idéias e versos e sons que me levaram a ser este rapaz insone que se apaixona facilmente por mulheres extremamente complicadas e que dizem não. A curiosidade de saber mais sobre Kurt e o Nirvana acabaram alimentando minha (hoje) insaciável curiosidade em saber mais sobre o rock e sobre a música em geral. As palavras de Kurt certamente ajudaram a despertar as minhas próprias palavras, de forma que hoje não me sinto capaz de continuar vivendo sem as palavras, e, especialmente, sem os sons que as cercam. Se eu não fosse tão preguiçoso, eu certamente teria me tornado músico, mesmo que um péssimo músico.
Kurt sempre me pareceu um sujeito de verdade, sua música, além de ser boa, era densa. De certa forma reproduzia os pequenos dramas e as pequenas alegrias que seu compositor vivia (ao que parece intensamente) e passava para o papel tão bem quanto passava para a guitarra. O Nirvana era uma banda de rock sem concessões e sem precedentes, como toda banda de rock digna de referência ou reverência. E Kurt, como eu, acreditava no rock. Nada a ver com salvação, que o rock é um perdido na vida, mas acreditava que o rock era o melhor caminho a ser trilhado, mesmo que fosse para chegar a tal estrada para o inferno. Acreditava que o rock poderia ser mais do que uma menina de dezesseis anos quebrando uma guitarra no teto de um Cadillac, acreditava que o rock era algo além de cabelos compridos e tatuagens pelo corpo entorpecido, acreditava que o rock não podia apenas ser um bando de gente pelada brincando na lama. E não gostava da maneira como o rock, e, por conseqüência direta, a sua música, era taxado e etiquetado como qualquer copo plástico.
Talvez a falta de uma resposta que lhe justificasse porque seus versos viraram estampas de camisetas e royalties para executivos e industriais acabou por levá-lo a desistir e se calar. Talvez ele apenas tenha errado na dose ou deixado de pagar alguma dívida. Não falta quem diga que ele simplesmente se casou com a mulher errada. Pouco importa, o meu herói morreu de qualquer jeito. E sua música continua sendo taxada e etiquetada como qualquer camiseta do Mickey Mouse, ou qualquer vidjêi da MTV, ou qualquer Fanta Laranja.
Deixe estar. Como também disse o tal homem muito mais velho e infinitamente mais sábio do que eu, o roquenrou nunca irá morrer. Nada mais lógico, pois a ferrugem nunca dorme. Um belo dia, Frances Farmer terá a sua revanche em Seattle.