Gustavo & Thais

sábado, dezembro 14, 2002
 
Vidas Moribundas - Réquiem para um Surdo

Começou sutil, terça de noite, um pontinho de nada no infinito da cabeça. Unhé, fui dormir que já era tarde e eu preciso acordar cedo às quartas ou perco o inenarrável pastel de queijo da tia na feira que rola semanalmente uma rua abaixo da minha. Meu polegar esquerdo havia voltado a doer sempre que exigido, mas aí veio o sono, o cansaço, a memória de um beijo e acabei acordando umas duas horas depois. Uma paudurescência horrorosa e deviam ser umas duas da matina. Sono e sem conseguir dormir e o bichão lá, durinho feito um pau. levantei da cama, tomei um bom gole d’água, sentei-me de volta na cama pra ver se o sono batia. Bateu, acompanhado de sonhos incestuosos e acordei com a imagem de monte merda esporrada, o que pode vir a ser um manjar para psicólogos freudianos, mas que para mim não fazia sentido algum e quase me enojava.
Estava acordado de novo, meio tenso, com uma súbita vontade de mijar e um mal-estar correndo por veias, artérias, gânglios e terminações nervosas. Após urinar, não consegui dormir, mas também não sabia se queria ou precisava vomitar. Fiquei arrotando no espelho do banheiro durante meia hora e percebi que não voltaria a dormir. Catei meu travesseiro, atravessei a sala onde meu pai dormia e entrei no quarto da minha mãe. Aquele velho esquema do “segura agora que o filho é teu”. Estava febril, mandei um tylenol pra dentro, e dormi ali mesmo. Better living through chemistry.
Acordei cedo, já com cara e trejeitos de doente. A praga do meu polegar esquerdo doendo cada vez mais e mais, e eu ainda teria uma entrevista de estágio logo depois do almoço. Enfim, resmungando e praguejando entre remédios contra a febre tomei banho e me arrumei para a entrevista, que correu bem e me deu um estágio naquela tarde mesmo. E promessas de voltar no dia seguinte para fechar minha primeira semana (estágio de assessor de imprensa num ateliê/loja, 10 horinhas semanais). Cheguei em casa e Lady Murphy me recebeu de lingerie vermelha e cinta-liga. Febre, dor de cabeça tosca, o polegar infernal e meu cotovelo direito voltara a incomodar (quebrei dois dentes dum cidadão numa briguinha reles usando o antebraço direito, fodendo com o cotovelo).
Dormi pessimamente, febril, resmunguento, querendo me dissolver no suor e resolvi procurar um médico para descobrir que catzo estava acontecendo aqui dentro. Após alguns telefonemas, consegui um na manhã de quinta, afinal trabalharia de tarde. No médico, uma lambidinha na orelha de Lady Murphy; minha pressão marcou 16x11 (seja lá o que isso queira dizer) e o cara encomendou uma penca de exames. Aparentemente só me restava dançar um tango argentino. Mais tarde, um ortopedista e exames de raio-x diagnosticaram que meu polegar sofria uma tendinite (mais bolinhas) e meu cotovelo estava de viadagem, porque não havia nada de errado com ele. Sei. Ao menos a Kelly Key estava gostosa na Playboy.
Algumas horinhas no trabalho, e chego de volta em casa. A noite foi relativamente tranqüila, estava sedado por remédios controlando a pressão, a febre e a tendinite. Acordo avisado que estava com uma sessão de esteira marcada pra dali a uma hora. Bom dia, Sol, bom dia, Lua, bom dia, flores. Fui lá, caminhando e cantando. Dez minutinhos de canseira, um médico te incentivando a não parar mesmo vendo que você estavesse prestes a maldizer todas as próximas gerações familiares dele. Desagradavelmente inesquecível. Você moribundo correndo numa esteira, sobrevivendo para não se esborrachar e voltar andando sob um sol de verão carioca para casa. Muito puto.
Cheguei em casa destruído, me meti debaixo de uma ducha, sentei no chão e só me levantei uma hora depois, após pensar em muito porcaria, inclusive escrever toda essa lama para compartilhar com alguém. Iria começar logo que me enxugasse, mas nem sonhei em sentar-me de frente para o micro. Deitei-me para dormir, exausto física e emocionalmente. Voltaram a febre e a dor de cabeça, Lady Murphy me pegou de jeito, sorriu eroticamente, afastou a calcinha de renda com um par de dedos e aterrissou em mim. A cavalgada foi ruidosa. Ela derirava com orgasmos múltiplos e simultâneos. A minha cabeça estava derretendo, só podia ser. Convenci minha mãe a me levar prum hospital, e eu odeio hospitais. Cheiro de hospital. Gente de hospital. Médicos fofinhos. Agulhas esterilizadas. Quase uma hora esperando ser atendido, a dor de cabeça passando e um cara falando que havia deixado de casar duas vezes por conta da mãe. Que estava morrendo como ele iria morrer um dia. A médica fofinha da vez me atendeu e nada descobriu, após me enfiar agulhas, me intoxicar com raio-x e obrigar algum químico infeliz cheirar meu xixi de doente.
Na volta pra casa, meu pai (médico) leu o resultado do teste de esforço (esteira) e percebeu que minha pressão não registrara nada de anormal. O exame de sangue era incompleto e o exame de urina acusava uma provável infecção urinária, e mais bolinha pra dentro. Um médico me taxa de hipertenso e a outra agora não sabe diagnosticar através da urina. Assim também quero ser ser médico. Meu pai entrou na nóia de tirar minha pressão 3 ou 4 vezes por dia desde então. Minha mãe inventou de me subalimentar com porcarias light ou diet. Meu irmão chegou em casa duma chopada qualquer e vomitou enquanto dormia, na própria cama, tendo a glória de dormir no próprio regúrgito.
A minha cabeça não estava nem aí, Lady Murphy resolveu passar noite comigo, insaciável. Uma noite linda. Foram necessários dois comprimidos de tylenol e meia hora numa cadeira debaixo de água fria, tremendo e desejando a morte, mesmo nu sobre um banquinho debaixo do chuveiro. A velha solução ideal, vencendo a febre, a dor de cabeça, as noites insones, as bolinhas, o estágio de assessoria, Lady Murphy e suas fodas, o provável câncer, a temível vasectomia. Morrer jovem, morrer bonito. Jimi Hendrix me esperaria lá em cima pra uma cervejinha.
Mas é óbvio que se não se pode ganhar todas. Após a chuveirada, dormi como sempre nestes últimos dias. Doente e resmungão. Unhé.


quarta-feira, dezembro 11, 2002
 
Resmungos, resmungos e outras reclamações

Talvez eu não atualize minha parte nesta casinha de sapê esta semana. E não tem nada a ver com o estágio que comecei hoje. Minha cabeça vai explodir até o meio-dia de amanhã, eu sei. Dará um trabalhão pra Glória recolher os miolinhos pela sala na sexta. Meu braço direito voltou a doer sempre que é fletido, após um mês numa boa. E o meu polegar canhestro entrou de novo numa pilha erradíssima de doer pra caralho o tempo todo, o que torna tarefas com amarrar os sapatos, enxugar-me do banho, vestir as calças ou abotoar qualquer botão um sacrifício olímpico.

O pior é sentar-se em frente à tv e não conseguir descobrir por que a porra do meu polegar esquerdo dói de vez em quando.