Gustavo & Thais

terça-feira, outubro 29, 2002
 
Seu olhar se perdia nalgunto ponto do infinito dela. Ele não acreditava, e nunca tinha se sentido tão real. Então a tocava com a ponta dos dedos, a beijava com a ponta dos lábios mas era difícil de acreditar nela. E ela o olhava como se fosse ficar cega no instante seguinte, e então procurava guardar cada traço, cada cheiro de sua fisionomia. A tarde era deles, o mundo todo era deles então.
Ela ajeitou-se e ficou deitada de olhos fechados, ouvindo o coração dele bater e respirando seu cheiro de menino. Ela era mais nova, mas era ele quem havia descoberto o sexo. Ela sorria de leve, ele estava nervoso feito um garoto, todo cheio de dedos. Respiravam profundamente, a tarde anoitecia na janela. Os dedos do garoto eram agora as mãos de um homem, e a acariciavam sem malícia.
No silêncio, só queriam continuar desejando, descobrindo e sentindo um ao outro. Era a primeira vez dele, e era o primeiro Amor dela. Amor com “A” maiúsculo, de chegar em casa e anotar no diário, escrever na agenda, no blog, na parede e fazer tatuagem. De não querer mais saber de outra coisa, de ligar no meio da noite e inventar um assunto depois de ouvir a voz do outro, de ficar em silêncio quando se deseja falar por horas e horas e horas.
Será que ele a amava? Será que ia lembrar de ligar pra ela no Rio, tendo que contar pra todos os seus amigos? Como será que ele estava se sentindo, notava que o coração dele voltara a bater num ritmo humanamente aceitável. Ela tinha medo de perguntar se ele a amava. Será que ele havia reparado que estava três quilos e meio acima do peso e que não tivera tempo de fazer a sobrancelha no dia anterior? Ele era tão bonitinho, tinha uma cicatriz de infância nas costas, por conta de travessuras de moleque com uma bicicleta. Ela queria fazer versos nas costas dele. Ele a chamava de “minha lindinha” e ela se derretia feito manteiga na frigideira. Ela gostava de ficar abraçadinha com ele no escurinho do cinema, gostava do cheiro dele depois do banho. Ele ainda cheirava a mar agora, a mar e a ela. Pegava onda e tinha uma banda, tocava guitarra e estava tentando escrever uma música pra ela. E ela achava tudo perfeito nele, mesmo a faculdade de filosofia e a banda barulhenta de stoner rock, ou seja lá como eles chamavam aquilo. Preferia Chico.
Ele, em silêncio, curtia o barulho do mar quase ali e respirava pelos cabelos da sua menina. A sua menina, ele ficava matutando. Já tivera outras gurias, mas nunca uma que fosse a sua menina. Ela estava com o maior sorriso do mundo enquanto dirigia rumo à casa de veraneio dos pais, em Cabo Frio. Iriam passar o fim de semana só os dois por lá, namoravam faziam dois meses, e não cansavam de descobrirem-se apaixonados. Ela gostava de fazer carinho na sua cicatriz de moleque. Ela era linda, de vez em quando ele se assustava com aquilo tudo. Na hora da transa, se sentia feito um menino mas ela o tratou feito um homem feito. Será que ela havia gostado? Mesmo? Achou que tinha sido rápido demais, nunca havia experimentado o sexo, não tinha namoros sérios, não queria que a sua primeira vez fosse com uma qualquer. Foi paciente até demais, já tinha quase vinte anos na cara. Ela o amava, tinha quase certeza, queria fazer uma tatuagem do nome dele no pescoço. Ele não sabia se era homem o suficiente pra ela, se a amava tanto. Também não sabia se largava a faculdade de filosofia pra tentar administração e não sabia onde havia deixado seu caderno com as músicas do Black Sabbath cifradas.
Entre incertezas e o mar, anoiteceram. Nus, na mesma cama, cheirando a sal e suor. Carícias e silêncios, por vezes trocando confidências no olhar, em certos sorrisos, pequenos beijos que furtavam. E se deixavam amar, o amanhã ficava pra depois. O mundo era todo deles, então.


segunda-feira, outubro 28, 2002
 
Hoje é segunda-feira. Acho que só de pilha vou comemorar a eleição do meu amigo Nota 9 hoje. Hehehe. A eleição do Lula foi só mais um lance supimpa de 2002, o ano que marcou minha existência suja de modo positivo. 2002 vai deixar saudades, pra melhorar, só preciso me inserir ativamente no modo de produção capitalista, arrumar um jeito de ver o Rush e conseguir logo o novo disco do Pearl Jam.

Abraços e beijos pros nossos 5 leitores, todos eleitores do Sapo Barbudo de Caetés!

 
Dia 27 de outubro
Hoje foi dia de festa. 13 (este é o número!!) anos depois vi uma massa de povo vermelho na rua. Muito diferente daquela melancolia abatida de 94 e 98. E amanhã é dia de trabalho. Nada de Serra. Ironicamente é dia de trabalho para todos, menos para os funcionários públicos, como o que o Lula será. É dia de trabalhho pra mim, apesar de tudo, de tudo. É dia de trabalhar a reconstrução deste país, que historicamente colocou o nosso cadidato (família e amigos) no caro máximo do poder execcutivo. Luís Ignácio Lula da Silva é Presidente da República Federativa do Brasil. Viva a campanha de 89, viva a persistência dele, que, depois de milhares de críticas, inclusive minhas e dos meus amigos e familiares eleitores, o fez chegar a esta vitória. É bom ve o povo na rua por uma causa mais nobre do que a enfadonha Copa do Mundo, que não enche barriga de ninguém.
Hoje foi dia de festa. Foi dia de festa de um dos nomes deste blog, foi dia de festa para o meu amigo que trabalha na Shell e que viveu esta campanha como Copa ddo Mundo mesmo, é dia de festa de aniversário do Lula, é dia de festa de comprovação de que "pessoas do bem" - como diz o Lopes - existem.
Hoje é daqueles dias em que eu poderia morrer tranqüilamente. Não vislumbro mais muita coisa pra fazer aqui. Na minha vida, às vezes tão pouco tempo cronológico concentra tudo de mais puro e impuro que o mundo pode oferecer. O fim de semana foi assim. Estive perto da pureza de criança da Marina, da revolta da Verônica por pensar que eu poderia não comemorar a vitória do Lula por outra impureza qualquer que recebi hoje. Impureza de tratamento, de espírito sobretudo, e de inteligência também, que sequer consegue entender o que está escrito em português em uma tela de computador.
Acho que as coisas vão caminhar para o bem. Acredito na Terezinha Bruno e na Regina Petrus. Acredito na boa vontade da nova pessoa que tem ficado ao meu lado tantos dias. Acredito no carinho que eu sinto por este menino que dá nome ao blog. Este carinho que não acaba nunca e que até aprece abençoado pela mãe dele. Acredito na boa vontade da Luíza. Adorei a maneira como ela me tratou ontem. Nada melhor do que se sentir querida, seja na hora do aperto ou da comemoração. Acredito na felicidade da Verônica em ver o Lula eleito e em passar por cima de tantas coisas de modo a curtir este momento. Eu também passei. Fui no Leme hoje quase de madrugada pra dar uma espiadinha nos novos e velhos eleitores do meu partido.
E agora é isso. Lula nos comanda e cada um comanda si mesmo. Cada um se policia pra ser feliz. O importante é ser feliz mesmo e ter saúde. Chega de ficar passando mal e o bom é deixar o coração disparar dia 1o. de janeiro de 2003. Agora é hora de tirar as lentes (mais de 24 horas depois....) e dormir um sono de paz. Poderia ser para sempre, mas sei que o coração não vai parar enquanto eu estiver dormindo. Quer dizer que ainda tem coisa pra fazer por aqui. Tenho que ver o dia 1o. de janeiro de 2003. Tenho que ver o dia 6 de novembro, logo na semana que vem e tantos outros dias pra aproveitar, dias de prazo, dias de cansaço, de compensação. A compensação sempre chega. Acho que o Lula mostrou isso hoje, e eu bem que venho mostrando, pra mim mesma, há alguns dias também.

 
Agora é Lula, pessoal

Luis Inácio ganhou a parada. Finalmente. O dia de hoje muita gente boa estava esperando desde 1989 e é bonito ver a garotada na rua cantando e dançando e bebendo porque a esperança venceu o medo. Aliás, a Regina Duarte visitou o Serra hoje, que coisa. Eu mesmo não queria estar aqui em casa, sóbrio e escrevendo, queria estar na rua, com meus amigos, sorrindo e bebendo e espantando essa ressaca aqui.
É bom saber que ainda tem gente que acredita no Brasil, que a gente ainda pode dar certo, eu gosto de saber disto - mesmo que eu não esteja esperando milagres do Lulão. Não sei se o governo dele será aquilo que a gente espera, uma verdadeira corrente pra frente pra mudar o Brasil, mas pelo menos é um governo eleito pela vontade de mudar das pessoas. E ainda tem o PT, que é um partido no Brasil com cara de sério, formado por gente confiável.
Tomara que tudo dê certo, que Mr. da Silva consiga pelo menos melhorar um tantinho que seja este país que precisa de uma razão pra acreditar num novo dia. Como ele mesmo disse: "a esperança venceu o medo". Ele sorriu, a gente sorriu e tomara que essa galera toda fazendo festa e enchendo as ruas de alegria tenha acertado em cheio.