Gustavo & Thais

sábado, outubro 12, 2002
 
Alegria, alegria!!

Aqui tem internet!

 
Pra não perder o Momento ou Li Clarice Lispector Demais
Então entro em casa exausta, ou melhor, muito exausta já no camibnho ded casa. E bate a dúvida se registro ou não. O bom desta coisa cibernética é que ela me cria um hábito de fazer registros de muitas coisas. Não que este hábito não existisse antes, mas é interessante ver a organização crescente de datas.
Como uma criança estúpida, tão ruim quanto uma adolescente imbecil, acabei tomando Cidra hoje de noite. Não creio nisso. E acho que foi pior que adolescentes tentando ficar de porre no Ano Novo justamente porque não sabia que era Cidra. O gosto bom, que me atraía no champagne, me fez tomar umas canecas daquela coisa cujo conteúdo nem deconfiei por estar em uma porra de um bar em que tudo é em ingês. Porra, na hora não me toquei que Cider era Cidra. E muito menos com o gosto, simplesmente porque não tomo Cidra, ora!!
Então saio do tal bar meio pra lá de Bagdá - bem pior do que a Londres sugestiva do local - pra continuar a longa jornada noite a dentro ou longa jornada freak a dentro. Não sei o que acontece em certos dias, que acabam por merecer um registro para que eu me lembre da minha própria história. Hoje entrevistei o Sr. Hélio Silva. 44 metros quadrados de apartamento, cheiro de cozinha pela casa, lado esquerdo paralizado por derrame, ostracismo, e tanta dificuldade de levar uma vida decente e digna. Será que agora ele dorme? Será que encontrou uma posição confortável entre as suas várias almofadas. Será que o braço esquerdo está alto para melhorar a circulação e evitar o inchaço? Espero que D. Agostinha tenha tantas amizades quanto diz. E acho que tem mesmo. Senti firmeza na sua voz, mas não imaginava que uma mágoa tão comum das mulheres da época da minha avó também existesse na sua vida.
Os homens vacilam e as mulheres se mantéem durante o vacilo e depois dele. Mas nesta idade espero que não haja espaço para culpas ou rancores, tendo em vista as toneladas de prroblemas prático burocráticos que eles têm para resolver. Preciso ver o que posso fazer por eles.
Depois dissso, ainda na zona sul do Rio - sr. Hélio e d. Agostinha moram em Copacabana - uma realidade totalmente diferente. Aquela que me faz esqucer as outras misérias e me voltar para aquela que tem cheiro de cigarro e tarja escrito Paroxetina. Não que sejam coisas ruins. Adoro o meu cigarro e a Paroxetina. Mas, bem lembrado, eles são heranças de um 11 de outubro de dois anos atrás. Uma data que levou mais ou menos a certas coisas que acontecem hoje. A data me leva quase que semanalmente à rrua Martins Ferreira, em Botafogo. Me leva à area daqui de casa pra pegar cinzeiro, me leva ao volante me sentido meio estranha, meio recuperada de uma certa covardia de experimentar as coisas, covardia que me fez sofrer feito um cão na adolescência. Não me meto mais em sinuca antigas sobre fazer certas coisas ou não. As sinucas de agora são resultado do tal 11 de outubro, ou quem sabe, o meu próprio 11 de setembro.
É foda tirar as lentes com este cansaço. É foda me mover com esste cansaço. É mais foda ainda viver com qualquer cansaço antigo. Pelo menos o de agora, é apenas da noite de hoje.

Você são Vocês
Meus queridos interlocutores imaginários. São são nem interlocutores completos porque não dialogam comimgo. Eu apenas é que falo com eles. Vou anotar seus nomes para que não me confunda como quando acontece quando leio cadernos antigos. Por algumas vezes não sei se me refiro ao Guilherme, à Ana Lúcia, ou mesmo a qualquer um daqueles pela sacos do colégio onde estudei. Agora vou passar a tomar notas privadas com o nome do você do post do dia tal. Assim sei a quem estava me referindo e evito as dúvdas quandoo eu for ler depois.
Os "você" são as criaturas que passam pelos meus dias acrescentando - ou por vezes infelizmente subtraindo - coisas. O que são as coisas? São as percepções, os olhares, as surpresas, as lágrimas, os carinhos, as palavras rudes (as craque em implodir a auto estima em segundos, auto estima conquistada dee pouco em pouco, durante anos, mas isso já é outro papo....), as conquistas. As coisas podem até ser o ódio. Até quarta-feira, havia sentido ódio apenas uma vez, e agora já são duas. Mas passou, ódio é muito passageiro e fulgaz, mas quando é incitado revela-se um sentimento avassalador na hora.
Agora passou. Aos poucos vou olhando pra frente com mais otimismo, percebendo que em cada pequeno espaço do dia tem acontecido algo novo ou interessante. Mesmo as fúrias, como a de quarta, tornam-se interessantes depois. É a tal história de aproveitar o que acontece para dar alguns passos, mudar e etc..
Hoje vi o representante no. 1 de um passado talvez sintético em relação à vida. Trouxe milhares de surpresas pequenas, grandes, singelas, estapafúrdias e sempre carinhosas. Depois, houve apenas uma surpresa talvez. A de que ele havia se transformado. O que veio depois foi a confirmação do meu espanto. As surpresas boas ficaram pra trás, assim como todas as mortes que não tem volta. E hoje, dois anos depois, me lembro de um pequeno ensinamento sobre a morte que me ocorreu depois da perda das minhas surpresas boas. É mais fácil lidar com a perda das pessoas que não estão mais aqui fisicamente. Diante disso não há volta. Quando as perdas acontecem em corpo presente, esperanças são alimentadas, aparecem as ilusões, a ânsia e a falta de concentração comem o cérebro. E como se a pessoa estivesse dentro de um caixão, você tem que aprender a se conformar e varrer o lixo do cérebro.

sexta-feira, outubro 11, 2002
 
Licencinha, gentem.

Vou ali ser feliz e já volto.

Hasta la vista (e tomara que tenha internet em Mandaguari).

 
Felicidade, entre aqui, por favor

Eu fico olhando pro sorriso dela, e ela não me pára de sorrir. E é só uma foto, eu sou só um sorriso. Como será que um sorriso consegue tanto? E como deve ser o gosto de um sorriso tão colgate?
Pequenos mistérios que vão dando umas forças pra eu continuar acreditando na vida. Seguindo em frente rumo à felicidade.
Olho pra noite, e espero. A felicidade vai me encontrar daqui a algumas horas, eu espero. Com calma, quase sem conseguir dormir, mas espero. Tentando achar a tudo normal, tentando não sair correndo atrás dela, aquele sorriso gostoso.
Mas falta muito pouco. Muito pouco. Eu só preciso caminhar direitinho agora, ela está lá, me aguardando, prontinha para entrar na minha vida. Toda linda, toda ela, ai ai.
Felicidade, entre e fique a vontade.

 
Umas Horas sem Cigarro, por favor...
Axl Rose já disse algo semelhante ao que se passa nesta cabeça que escreve aqui: por trás de tudo sempre há um pensamento doentio. Pois é verdade.
Acabei de escovar os dentes e pretendo fazer um certo esforço pra não ser tomada pelo gosto de cigarro que infecta a minha boca desde ontem, depois de ter fumado mais de dois maços em dois dias. Merda.

quinta-feira, outubro 10, 2002
 
No trabalho
Acho que você conseguiu realizar seu feito. As coisas passaram parcialmente, e hoje ainda há uma ressaca de palavras pesadas que estupraram os meus ouvidos no dia anterior. A maneira como tudo se processou ainda cansa a cabeça e deixa uma seriedade feia no meu rosto. Os músculos da face não se movem muito, e eu que gosto de falar pouco me pronuncio. Não gosto deste meu silêncio. Não é de serenidade, mas de apatia. Ontem quando F. me abraçou e esteve perto de mim, as coisas melhoraram. Mas hoje, humm, não sei... Ainda bate um cansaço, uma lentidão e vontade ir pra casa, pra fugir destes risos frenéticos que me envolvem na redação. Hoje, que estou longe do clima de qualquer alegria estanhada na cara dos outros, muitas notas agudas e brincadeirinhas bestas povoam esta sala.

 
Religião, Força e Progresso
Uma letra sábia do Rappa para os que acreditam nas forças do mal e do bem, e que podemos sim nos afastar do que faz mal. Ogum, Nanã e Xangô estão aí pra isso.
Se eles são Exu
Eu sou Yemanjá
Se eles matam bicho
Eu tomo banho de mar
Com corpo fechado
Ninguém vai me pegar

LadoA LadoB, LadoB LadoA
No bê-a-bá da chapa quente
Eu sou mais o Jorge Bem
Tocando bem alto no meu walkman
Esperando o carnaval do ano que vem
Não sei se o ano vai ser do mal
Ou se vai ser do bem

O que te guarda, a lei dos homens
O que me guarda, é a lei de Deus
Não abro mão da mitologia negra
Pra dizer: eu não pareço com você!!
Há um despacho na esquina do futuro
Com oferendas carimbadas todo dia
Eu vou chegar, pedir, agradecer
Pois a vitória de um homem
Às vezes se esconde num gesto forte
Que só ele pode ver

Eu sou guerreiro, sou trabalhador
E todo dia vou encarar
Com fé em Deus e na batalha
Espero estar bem longe
Quando o rodo passar

E sim, eu sou mais Iemanjá e Ogum, e tomo banho de mar, preibói!! (como diz o meeu amigo)

 
Credence Clearwater pra Você
Não que você mereça, porque Credence é muito bom, e melhorou meu dia. Você merece saber que mesmo com meus defeitos de caráter - segundo você julga - sou capaz de alegrar meu espírito com uma música tão maravilhosa.
Hoje fui salva por uma força de vontade que não tinha há algum tempo atrás e consegui levantar o rabo de casa e sair pra ver o que rolava. Escolha certa. Passou. Agora fica mais uma cicatriz escrota, entre as várias que eu tenho, mas vai melhorar. E tive a reação oposta da que achei que fosse ter. Entre os dias em que tenho estado com uma nova pessoa, o de hoje foi o melhor. Independente das merdas que rolaram de tarde. Mais uma prova de self-power, que nada tem a ver com a poridão da nossa história. Agora acontecem coisas EM PARALELO, que não se cruzam com o passado. E isso é tudo de bom.

quarta-feira, outubro 09, 2002
 
Ruído no Dia
Um dia de derrota no meio do que tem sido bom. É verdade, basta mesmo ouvir sua voz que nada fica bem, tudo se desconstrói e cai por terra. Mas faz parte, não sou máquina mesmo pra deixar de me afetar em tão pouco tempo. E como naquela quinta feira sórdida, acredito que amanhã as coisas melhoram. É só voltar à distância. Dei uma boa vitória a você ao me afetar deste jeito hoje, mas depois de 21 anos construindo algumas convicções que passam sim pelo caráter e pela integridade, não consigo suportar deboches de uma pessoa que não se resolve e quer me sugar por conta disso. Meu cérebro não suporta ser ssugado por uma pessoa que não aprendeu como ter um tipo de consideração básico, muito básico mesmo com os outros, ou ao menos com aqueles que lhe foram caros por um tempo. Depois de um tempo, uma pessoa que está doente e não melhora, nem ao menos procura se tratar tenta expandir os tentáculos da sua loucura para mim, que agora desfaço o contorcionismo que fiz nos últimos anos.
E agora durmo com o barulho das palavras imundas que me foram ditas hoje, em busca do nível do desprezo que preciso atingir para que elas não me afetem mais. Se dependo dee alguma coisa no momento para me sentir bem, essa coisa é a distância. E o cuidado com o meu esspaço próprio. Não me invada com a sua loucura, procure outras muletas e não um apoio pra você escoicear enquanto não melhora. Escoiceie a sua própria sombra ou quem sabe a sua cara, quem em nada tem a ver com o ser perverso que você deixou aflorar em sua personalidade.
No momento, tenho muita agressividade dentro de mim. Vontade de bater, de cuspir e xingar. Mas deixa isso guardado. Me importo sim em preservar as atitudes que correspondem aao meu caráter. Porque caráter é sim coisa séria.
Agora, não há nada nem ninguém. Apenas um silêncio que preciso manter para conduzir as coisas diferentes do que elas foram conduzidas há dois anos atrás.
Não quero mais ser importunada com arroubos de insegurança, pois não tenho mais nada a ver com isso. Não quero ser interrompida em ABSOLUTAMENTE NADA do que tenho feito ultimamente, seja um copo d´água, um cigarro, um cinema, um beijo, o dirigir do carro ou uma aula. Cada um destes momentos, deestes minutos que os compõem me são preciosos e completamente meus. São levados a sério ou desleixados pra valer, mas tudo de acordo com a minha decisão. E ela não deve ser interrompida a não ser por intervenções de pessoas minimamente dignas, que precisem de mim em algum momento delas. Você não precisa de mim a não ser para tentar se sentir melhor sobre as suas expectativas de que eu esteja fodida. Mas não estou. Este talvez seja um dos melhorres momentos da minha vida porque tem se revelado uma vitória sobre a maior das minhas derrotas. Aquela que doeu mais e a qual você volta e meia tenta reviver. Não quero mais viver isso. Já foi o suficiente. O ciclo se fechou com palavras grosseiras e impensadas de uma pessoa que parece nunca pen sar certo, ou ao certo.
Não tenho nada a ver com isso pois minha ajuda em outros tempos pareceu não ser suficiente. E com isso fui adulterando o que eu queria em nome de algo que há muito não valia a pena. Alguém que não vale a pena deve ser convertido em um estranho, digno do desprezo mais profundo, aquele no qual não se pensa e que aparece com naturalidade.
Agora vou voltar para o módulo da nova realidade, bem mais agradável do que a de hoje. Não é fácil mudar de canal tão rápido, no caso, tenho menos de duas horas. Mas a partir daí é o retorno ao que eu estava fazendo há um tempo, até hoje de tarde. E hoje de tarde já passou. Vou ter que dormir com o barulho mesmo, mas não posso tentar resolver isso. Você é que é um gauche na vida, que não sabe mensurar nem mesmo as palavras, por isso o turbilhão de sentimentos absurdos e imaturos que carrega. Vou tentar rsegurar a vontade de falar mais e tentar lhe convencer o contrário do absurdo dos seus pensamentos sobre mim. Até que um dia esta vontade vai sumir, porque você será um estranho como o padediro ou o rapaz do posto dee gasolina. Mas ao menos, eles mereceem o meu bom dia. E para o seu dia eu não vou desejar absolutamente nada, nem de bom, nem de ruim.

 
Vida Online ontem e é bom perceber como aquela teoria vale: por mais que você esteja mal, por mais que você seja doente, sempre existem pessoas infinitamente piores. Os personagens do filme eram bastante simnpáticos até, e facilmente cativantes, mas puta que pariu... O grande lance do filme eram as webcams. Então tinha blog com webcam e sexo com webcam. Exatamente como é hoje, mas tudo mais rápido e moderno, em uma tentativa das pessoas se aproximarem mais, já que existe a imagem. De nada adianta, os problemas internéticos são sempre os mesmos.

Apesar de ter ficado em casa hoje por razões de saúde, é bom dar uma relaxada. Só ontem percebi que estava badalando demais, saindo todos os dias. Só que melhor que em algumas semanas atrás, em que a coisa estava mais frenética a porra louca. Amanhã - quarta - espero conseguir acordar pra estrear meu período na ECO. Passei por lá hoje e ssurpreendentemente bateu uma nostalgia, porque na verdade, na verdade, a ECO já acabou. Foi no tempo certo, mas ainda sobram algumas correntes me ligando com aquele lugar. Além do óbvio, do qual voume desvencilhando aos poucos, tem A COISA da minha turma. Aquele troço estranho em que acabei caindo. Mas como já disse há um tempo atrás, não vai sobrar muita coisa efetivamente. Foda-se, paro por aqui. Vou ver Friends.

terça-feira, outubro 08, 2002
 
Vidas Etílicas 4ª Dentição (eu acho)

Então você acordou gripado, seu nariz parece Itaipu inundando a Argentina, você não toma café mas manda pra dentro um Redoxon e mais seu colorido Naldecon. Funga de dez em dez segundos, sua vó fica te olhando como se este resfriado fosse o último golpe de Deus contra sua pobre alma.
A coisa vai mal, amiguinhos, muito mal. Só que tem um porém, hoje é a chopada da sua faculdade. Sim, cerveja de graça. Sim, suas calourinhas bebendo. Sim. Seu organismo pede Vitamina C, seu fígado pede clemência, seu nariz pede um lenço, seu bom senso te lembra que você vai acordar amanhã.
Mas você só pensa nela, loirinha, espumando, limpando a sua garganta, sorrindo, te beijando. Cerveza, ajudando manés a comer alguém desde 1776. O seu espírito de bêbado ignora seus anticorpos labutando por um amanhã mais tranqüilo.
Mas você não é de todo irresponsável: para combater a gripe hoje você toma uma atitude louvável e vai à praia.
Contra gripes no quase verão carioca, praia + cerveja em doses cavalares. Porque ninguém disse aqui que é para moderar bebida. Se é para beber, beba profissionalmente.

 
Nina. Suave, ele precisava de Nina, ali, agora, nele. Mas ela não estava. Deitou-se no quarto, apagou as luzes, fechou os olhos, sozinho. Pela janela vinha um vento de nada e ruídos duma festa no andar de baixo. E ele sozinho, precisando de Nina. Nina devia estar em casa, tratando da vida dela. Moravam no mesmo bairro, separados por algumas quadras, nunca haviam se cruzado. Até hoje. Quase por acidente. A Mão Invisível do Mercado os posicionou frente a frente numa mesinha do boteco onde ambos bebiam pelo aniversário dum conhecido em comum. Papo vai, papo vem, ficou tarde. Você também mora no Méier? Eu te levo, vamos no meu carro. Ela sorria, ele falava e ambos choraram quando a Cássia Eller morreu. Sabe quando todo um momento parece perfeito? Aquele momento pareceu. Nina era perfeita ali.
Mas chegaram ao Méier e Nina ficou em casa. Maldita timidez. Não arriscou um olhar, não roubou um beijo, não. Apenas disse adeus, ela respondeu sorrindo e agradecendo pela carona. E agora, deitado no quarto, sozinho, silêncio e Nina a lhe revirar as entranhas. Não iria conseguir dormir diante daquela agonia, levantou-se e meteu-se debaixo de uma ducha fria. Certas noites do Méier são insuportavelmente quentes, outras tensas além de um certo limite. Esta noite agregava o calor e a tensão, ele ficou debaixo do jato d’água meia hora, os olhos fechados, contando carneirinhos, pensando no mar, imaginando o nada. Talvez Nina fosse embora daquele corpo, mas continuava quente. Praga. Maldita timidez.
A festa havia cessado no andar de baixo, a brisa apenas ronronava. O relógio na cabeceira da cama marcava 23:47. Talvez fosse uma boa idéia ler um livro ou conferir seus e-mails. E o calor era tanto que preferiu não se enxugar direito após o banho, ainda respingava. Deitou-se nu e fechou os olhos. Nina. Como queria Nina em si. Já estava ficando covarde. O desejo foi se materializando cada vez mais fisicamente e não queria mais esperar por Nina. Ficou durante dois minutos repetindo para si mesmo em voz baixa: “Paciência é uma virtude”. Nina já lhe doía entre seus rins. E veio junto com a brisa o perfume de Nina a lhe sussurrar delírios em seus olhos.
Começou devagar, e não havia razão alguma para a pressa, Nina lhe sorria e pedia carinho. Respirava profundamente, esboçava um sorriso, espalhava-se pela cama e desejava Nina, que lhe acariciava o membro. A noite apenas assistia. Nina era uma, Nina era mil, Nina era Nina e ele resolvia sua sede sozinho, nu, em seu quarto, a suar entre seus próprios suspiros, a falar em vão o nome Nina e procurar entre suas lembranças o rosto já distante da moça. Suado, tenso, exasperante, veio o alívio imediato. Veio espesso, veio forte, sujou as mãos, sujou a cama e se sentiu um merda por tudo aquilo. Nina continuava longe e não era sua, jamais havia sido sua. Pelo menos conseguira transformar o desejo em frustração e pensar noutra coisa que não fosse Nina o devorando através da noite. Agora Nina o deprimia, ele se censurava por não querer arriscar uma chance. E agora estava suado e sujo, e continuava sozinho. E Nina continava ali, longe dele.
Levantou-se e foi tomar outra ducha para dormir, aconchegado entre fracassos e promessas esquecidas. E Nina, claro. Praga. Maldita timidez.


domingo, outubro 06, 2002
 
Ground Control to Major Tom
Na mesma fila, três objetos de desejo. Dois deles inacessíveis, o outro, a última aquisição que faz bem nestes dias. Quase estive com um quarto hoje, mas se este estivesse comigo, um deles não estaria lá. Fila peculiar aquela de hoje. A cabeça deu uma rodada, mas consegui ver um casal estranho ir em direção ao céu. E gostei de receber seu telefonema ontem. Não me esqueci de você. Estas histórias pequenas e incompletas foram de certo modo uma das alegrias dee 2001.
Aos poucos vou deixando o trem fastasma destes últimos anos pra trás e fico contente ao perceber que tenho vários objetos de desejo e que posso e pude viver o meu desejo com alguns deles. Aos poucos, talvez as coisas estejam se acertando. Amanhã é dia de eleição, e se deus quiser, ela será bem diferente da última que passou.

6 de Outubro
Minhas energias positivas voltadas para o metalúrgico de São Bernardo do Campo amanhã. Gosto de acreditar no país prque bem ou mal vivo nele e teno milhares de afetos com a minhha vida, toda ambientada aqui. E depois de acompanhar todas as derrotas - talvez a de 89 tenha sido a menos melancólica pelo clima que se abateu o país - alimento esperanças para que amanhã seja o início de uma puta vitória das pessoas de outras misérias, que eu não tive a infelicidade de viver.