Gustavo & Thais

quinta-feira, setembro 12, 2002
 
Estou recomendando. Está entre as minhas leituras de internet. Mineirinhas que sabem beber escrevendo pra espantar os males.
Além do que eu adoro a Dri. : )

 
Bem, acabei vendo e gostando do documentário que a GNT passou sobre o 11 de setembro. Aquele dos irmãos franceses, que filma os bombeiros dentro do prédio na hora que ele começa a ruir. A Globo vai passar também, deve estar passando agora. Muito mais do mesmo (os aviões batendo, as pessoas correndo, aquilo que você cansou de ver na TV) mas também mostra algumas coisas que a gente não pôde sentir. O barulho dos corpos chegando no chão depois de pular do WTC. O trabalho das equipes de resgate. O olhar do bombeiro novato querendo vingança. Aquela poeira toda.
Foi bom poder ver na TV uma explosão suja. Poder ver como é difícil sobreviver naquela situação. Sair daquela gaiola de terrorismo com cara de cinemão. Super válido.

Agora, parem pra pensar o que deve ter sido Hiroshima. Nagasáqui. O Vietnam. Bagdá. Como deve ser horrível morar em Jerusalém, onde aquela sujeira é rotina. É escroto eu escrever isso, mas os americanos não foram mais vítimas do que ninguém. Eles só souberam (puderam, melhor dizendo) vender melhor o seu peixe. Tomara que também apareça um documentário mostrando que a guerra de video game que eles fazem via CNN (aqueles pontinhos verdes piscando na sua telinha enquanto você janta) também é suja. Vou pedir este ano pro Papai Noel.
Porque, já diz uma velha canção, periferia é periferia. Em qualquer lugar.

terça-feira, setembro 10, 2002
 
Perdoa-me, Senhor, eu traí. Pelo motivo mais vil, a ganância, que se bobear deve ser até pecado capital. Tudo culpa desta maldita segunda-feira, que deve ser uma espécie de feriado para barbeiros.
Explicarei melhor agora o que se passou. Amanhã de manhã irei tentar a sorte numa dinâmica de grupo para arrumar um estágio bem remunerado na Fundação Roberto Marinho, a fachada social do Tio Bob. Preciso ir arrumado, tenho essa fixação, pra tentar convencer as pessoas que posso ser um sujeito respeitável me arrumo todo, um mauricinho perfeito. E de cabelo cortado e barba feita. Decidi que cortaria o cabelo hoje, até porque ele já estava tomando certas liberdades indevidas. Desço a rua ao encontro do meu barbeiro, e eis que hoje é segunda-feira e o salão onde ele bate ponto não está aberto.
E agora, teria que aparecer com um cabelo rebelde diante daquela patota de RH? Não, the money got roll right on my hand quickly, amiguinhos. Teria que cortar meu cabelo com outra pessoa e isso não é coisa que se faça quando a sua relação com o seu barbeiro já é pessoal. Mesmo que um não saiba o nome do outro, a relação que tenho com ele é séria. Confiança, ele sabe que eu preciso manter um visual aceitável e eu sei que ele me tem como um cliente fiel. A confiança mútua deste relacionamento perdoa eventuais deslizes, eu posso resolver ficar cabeludo durante uns seis meses e ele pode deixar uma costeleta meio dedo maior que a outra volta e meia. Não importa, ele é o meu barbeiro, é ele quem responde pelo meu cabelo.
A história vem desde o centenário do Clube de Regatas Flamengo, quando Romário marcou três no Botafogo e a massa rubro-negra comemorou aquela Taça Guanabara. Eu havia recém me mudado para o bairro do Méier, subúrbio da Central, terra de Regininha Poltergeist e outras delícias da carne. Um belo dia, precisei cortar o cabelo. Saí pelas ruas procurando o lugar ideal, uma barbearia onde homens do sexo masculino cortassem o cabelo (e até fizessem a barba) de outros animais da mesma espécie, porque é assim que tem que ser. Eis que a duas esquinas do meu condomínio havia o lugar. Um salão onde meia dúzia de coroas quase velhinhos se dedicava ao domínio de tesouras e navalhas sob o tempero da pedra pome e edições sempre renovadas do Dia e do Jornal dos Sports. Entrei e aí começou a minha relação com nosso ilustre anônimo, que por sinal é gago. Sem muita frescura, apenas eventuais cumprimentos e o necessário – passa a um, bem baixinho.
E assim foi, entre três e quatro meses eu aparecia lá pra cortar o cabelo e parecia que não poderia ser de outra forma. Eu adentrava no salão, catava um jornal, cumprimentava os barbeiros, sentava-me na minha cadeira de sempre e ele fazia o serviço, sem muito blábláblá, apenas comentários esparsos sobre o Flamengo, alguma boazuda global em ascensão ou algum fato relevante que merecesse um colóquio eventual. Ele sabia o corte, eu sabia o preço. E o ambiente era ótimo, os caras eram realmente amigos. Velhos camaradas, aquele clima de barbearia de filme de máfia americano, sacam? E a minha relação com o meu barbeiro sempre teve um entendimento entre a gente de uma premissa básica: diferente da mulher, o corte de cabelo masculino é mais movido pela necessidade do que pela vaidade. Dá-se o mesmo com o hábito de fazer a barba, nenhum homem gosta de ter que ficar fazendo a barba quase diariamente, mas precisa. O cabelo é praticamente a mesma coisa. Mas homem nenhum quer ser feio, logo, também não se barbeia ou corta o cabelo de qualquer forma. Então, ele era prático, mas tinha lá suas filigranas. Não simplesmente passava a máquina e pronto, também dava um trato de leve, sem inventar moda – e, afinal, nenhum dos dois queria viadagens. Eis a grande vantagem do barbeiro, ele te entende, não é como cortar o cabelo em salões unissex (e ainda pior, em coiffeurs de shopping centers) onde há sempre uma frutinha ou uma cabelereira a querer fazer sua cabeça de outdoor dos dotes artísticos delas.
Nossa relação ainda ganhou um certo elemento dramático quando eu me mudei para o apê atual, duas quadras atrás do antigo. Fui cortar o cabelo após uma longa temporada cabeludo no local onde eu já era freguês. Chegando lá, ele não estava. Mas a situação já estava crítica, e cortei com outro dos coroas quase velhinhos. Voltando para casa, cabelo aparado pela máquina um, encontro o meu barbeiro a me chamar, em frente a um salão que fica numa esquina da minha rua. Ele havia saído do seu antigo local de trabalho, agora estava atendendo ali no salão novo, por um preço mais barato. Chegou a me chamar quando eu me dirigia cabeludo para a barbearia de costume, mas a minha surdez o traiu. Pedi desculpas pro sujeito. As mais sinceras escusas. Porque barbeiro não é que nem dicionário, ter o Aurélio e o Houiass em casa é bom, porque eles se completam, mas barbeiro não. Barbeiro é aquele ali e pronto. É uma relação humana.
E continuei a freqüentá-lo, mantendo um relacionamento fiel e agradável, com direito a calendários com mulheres nuas nas festas de fim de ano. E hoje traí-o, pela segunda vez. Sordidamente, num salão onde uma mulher me atendeu numa espécie de recepção inquirindo-me sobre como eu havia descoberto o local e se eu já havia ido lá outras vezes. Mesmo que o corte à máquina me custe parcos três reais ali, nunca mais voltarei. Um local onde um coroa com o cabelo porcamente descolorido comparava a previsão dos capítulos das novelas para a semana em duas revistas de fofocas ao mesmo tempo. Um local onde eu pedi o corte de sempre – máquina um – e a mulher me olhou com espanto, como se eu tivesse cometendo um crime, e me perguntou mais duas ou três vezes se era para passar a um mesmo. E durante o serviço, sem nem ao menos uma edição da Manchete para me distrair, ainda ficou maldizendo junto das outras colegas de trabalho algum sujeito gordo que havia cortado o cabelo por lá, e continuou tagarelando futilidades o corte todo. E ainda se deu ao trabalho de perguntar se eu queria o sopé “quadradinho ou redondinho”, como se eu algum dia eu tivesse me importado com este tipo de detalhe. Pelo menos consegui deixar as mãozinhas dela longes das minhas costeletas.
E agora, como vou aparecer na frente do meu barbeiro traído com este cabelo aparadinho de máquina um? O que ele vai pensar de mim? O jeito é evitar certas esquinas por um mês, até esse cabelo reaparecer.
Ou andar de boné.


domingo, setembro 08, 2002
 
Fim de Festa
Uma semana deu pra descansar e colocar algumas coisas da cabeça em ordem. Espero que seu afeto esteja valendo a pena, e confio muito em você, a ponto de manter minha admiração de anos atrás, e mais, aumentál-a a cada dia. Não sabia que estava inserida em um contexto tão grande dee perdas irreparáveis e novas formações familiares. Não me imaginava fazendo parte de nenhuma nova família até que eu criasse a minha própria. Como disse, não boto minha mão no fogo por ninguém que não a minha mãe. Mas juro que quero botar.
Tchau para a ECO. Ficam faltando as *duas monografias* e o *cirurgicamente deletável* que dá nome a este blog. Os outros nem chegaram a ser nada. "Adeus, meninos", sem muitas saudades mesmo. Valeram as piadas e todas as risadas, mas elas não foram suficiente para mim. Muito do que tem acontecido não tem sido o suficiente. Ainda sim acredito que vai haver um estado de melhora que se aproxima com a subtração dos dias.
A trilha sonora e Amélie Poulain herself embalaram estes dias, que pareceram mesmo as férias autênticas, aquelas de alguns anos atrás. Ou melhor, aquelas cuja última experiência esteve no ano passado porque desde então não tive mais férias mesmo. Em todo o caso, mesmo pequena, esta folga já valeu um registro, ou os registros que fiz esta semana.
Ao meu companheiro de blog, e mais nova descoberta do ano, agradeeço por esta despedida de dias bons. Agradeço por não ter deixado a faculdade ter passado em branco completamente.
A minha amiga R., agradeço por mais um daqueles dias de revelações e surpresas, como acontecia em 97. Sentir-se lisonjeada é uma das melhores sensações. Sentir-se parte de algo que você nem sabe que existe, e que é bom, é outra das melhores sensações. Isso vai me fazer levantar na segunda. Pelo menos enquanto escrevo aqui, estou em um momento de fé, um dos melhores sentimentos que o ser humano pode ter. E que infelizmente passa rápido. Em 98, ouvi que "os momentos são definitivos", na calçada do meu colégio. Quinta feira e hoje foram dois momentos mais definitvos do que o que está por vir na próxima semana. Eles não vão se repetir e outros, tão bons quanto estes, também podem custar a vir.