Gustavo & Thais |
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Mais Um Blog Besta que Ainda Vai Servir Pra Alguma Coisa Os Caras-Palidas que se cuidem...
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sábado, agosto 03, 2002
Sentimento sem ação é a ruína da alma. Está escrito aqui na revista aberta em cima da cama. Está dado o conselho, aproveite pra tirar a prova dos nove com aquele xaveco meio travado de estimação. Rockaction, como queria o Mogwai. Chegue à meia-luz e sursurre à meia-voz, roçando despropositalmente os lábios no ouvido de seu alvo móvel, a supracitada máxima. Se o(a) travado(a) não se tocar, toque-o(a). Use o seu melhor sorriso com a mais sórdida das intenções. Ou o seu melhor decote. Ou o seu melhor beijo. Só não deixe sua existência passar em branco, que nem carreira de pó. Afinal, sentimento sem ação é a ruína da alma. quinta-feira, agosto 01, 2002
Estava doendo de verdade. Saía espesso, malcheiroso, navalhando a uretra. Quente, cor de sangue, parecia não ter fim, era como se fosse o antigozo. Eu ardia em febre sentado e mijando no banheiro do ônibus, que seguia firme em direção a BH. Suava já, estava desejando a morte mais que qualquer narcótico que me limpasse daquela situação lazarenta. Sacudi, e me levantei, dando a descarga do ônibus, entre dois solavancos. Maldito governo que gastava meu dinheiro com putas e não tapava os buracos da estrada. Regina me esperava sentada, com um sorriso meio fora de validade. Está melhor, benzinho? Melhor porra nenhuma, caralho. Não era culpa de Regina aquela febre, nem aquele mijo dos infernos, nem o governo que vivia na putaria, nem a estrada mal recapeada, nem o casal de velhinhos que estavam flatulando amorosamente a nossa frente de dez em dez minutos. Mas ela era a única ali que estava com alguma pena da minha febre, e a única que não iria me agredir caso fosse destratada daquela maneira. Regina gostava muito de mim, até demais. Mas era incapaz de gostar sem abrir a boca. Eu gostava do silêncio, especialmente em ônibus febris. A viagem já estava longa demais e nem ainda havíamos saído do Rio. A febre me alcançou após trinta quilômetros de viagem. Anoitecia, então. A tripulação parecia ronronar. Paz, enfim. Regina dormia recostada em meu ombro, eu contemplava aquele silêncio tentando esquecer a febre, um pouco aplacada por alguma soma considerável de analgésicos que ingerira há pouco tempo. O silêncio e a febre, meus dois companheiros de viagem. Regina começou a morder minha orelha, de leve. Acordara com um dos meus grunhidos chorosos de doente. Coisas indizíveis entre uma e outra mordidela. Regina, durma, não insista, estou fodido. Quem vai te foder sou eu, bobão. Era só o que me faltava, o elemento sexual sempre irreprimido em Regina. Agora queria dormir, mas ela queria uma trepada ali, no meio da estrada, entre o silêncio, a febre e desconhecidos que não cheiravam bem. Ela me mordiscava o ombro, uma das mãos me procurava nervosa o membro, flácido e cansado. A outra me puxava os cabelos. Eu ainda resistia em meu estado moribundo, ela tinha que me deixar descansar. Antes que ela mergulhasse em mim, a segurei pelos cabelos. Mulher, contenha-se. Ela mirou a minha ira e suplicou por um beijo. O importante era não deixar brechas, mas aliviei um pouco e soltei seus cabelos, acariciando-lhe a face. A febre ardia em fogo brando mas minhas mãos já descobriam os seios de Regina. O amor foi lento e silencioso, ela me mordia o rosto para não gritar. O sêmem saiu pior que a mijada, a dor me cobria em chagas, as mãos de Regina marcavam minha pele a fogo, minha cabeça virava suor, o pulmão gritava. Tudo em silêncio no solavanco da escuridão. Já podia se sentir o litoral longe, o ar secava e resfriava-se um pouco. Está melhor, benzinho? Melhor porra nenhuma, caralho. E vê se deixa dormir agora. quarta-feira, julho 31, 2002
Atendi o telefone ainda meio molhado do banho e ela estava chorando na linha. Eu pingando no meio da sala por conta das lágrimas dela. "Não faça isso comigo, eu não sei amar você." Ela choramingava palavras confusas do outro lado, eu ainda atordoado com tudo aquilo, e ela me pedindo pra desistir dela. Eu não podia desistir dela, eu não queria desistir dela, eu estava feliz por ela existir, pela voz dela existir. Eu não era um cara feliz há muito tempo. "Mas é claro que sabe me amar, você me faz feliz como ninguém." O choro ia diminuindo, pelo menos. Pouca coisa me impacienta tanto quanto uma mulher chorando, ainda mais por minha causa. Sempre tentei ser um cara durão, mesmo sendo uma manteiga derretida. Odeio me emocionar em público. Ela pareceu que retomou o auto-controle, pediu desculpas pelo drama e disse que eu não poderia fazer aquilo com ela, todo aquele amor, e se fosse em vão? Ela nunca iria entender que já não dava mais pra ser em vão. Mas eu tentei explicar do mesmo jeito, molhando o carpete da sala. Ela tinha me feito sorrir como eu já não ria desde a minha infância. Eu estava mais atento pras nunces do cotidiano, ficara mais receptivo a coisas boas em meu torno. Eu era um homem melhor, um homem melhor pra ela e por conta dela. Parecia bobagem, mas era a verdade. Ela achou muito fofo, mas desligou sem dizer se me amava. Estávamos enrolados e obviamente atraídos um pelo outro, já tinha quase um mês. Seus beijos e seu sexo haviam me devorado duas ou três noites impossíveis. Mas ela se recusava a dizer que me amava, mesmo me amando como nenhuma outra. Aquilo me perturbava, e eu nu no meio da sala, no meio da noite, com o telefone na mão molhando o carpete. Precisava de um maldito cigarro, um maldito cigarro, cadê? Eu precisava dela muito mais do que daquele pequeno câncer, mas o cigarro deveria estar em algum canto do meu quarto, logo ali. Toda a minha fachada de dureza ia desmoronando enquanto eu não conseguia achar o cigarro, de repente me vi amedontrado, ela podia simplesmente resolver me esquecer. Parar de me ligar chorando no meio da noite. Não me devorar mais durante madrugadas insaciáveis. E não seria culpa dela a minha derrocada, ela havia me pedido pra que eu não a amasse daquele jeito, ela não sabia me amar. Ela não sabia me amar e estava com medo de acabar comigo, era um tiro no meio do estômago, uma lâmina enferrujada me desovando vivo. Eu não saberia o que fazer. E, subitamente, eu já não era um cara faliz há muito tempo. terça-feira, julho 30, 2002
Talvez eu devesse ir mais devagar, tentar deixar meus pés no chão por mais tempo. Não me atirar contra a tempestade como quem não tem mais nada a perder, ainda que eu não tenha mais nada a perder. Talvez assim eu não me fodesse tanto. Vida de babaca é atribulada, se já disse aqui, repito. Mas se eu fosse tão cauteloso, talvez as minhas experiências não teriam sido tão válidas. Ou tão tristes. Ou tão tragicômicas. Então eu mando às favas aquela cautela mínima que se deve ter na vida diante das tempestades e resolvo sair correndo sem a menor proteção ou garantia. Correndo contra o que, eu nunca soube. E acho que raras vezes me perguntei se não era mais fácil tentar ter uma fração simbólica de bom-senso. Mas o meu bom-senso não resiste a um sorriso, a um rebolado ou a um gole. Meu bom-senso não tem a menor noção. Ainda bem. domingo, julho 28, 2002
Sobre o Blog e Eu Estava há um tempo sem escrever aqui a confesso que senti um pouco de falta. E também confesso que acho legal ter sentido falta. Escrever aqui me criou um certo hábito que só estava associado a certos estados emocionais em que me encontrava.Me sentia de determinada maneira e então escrevia. Tudo muito pontual. Sobre a Adolescência que Não Passa Esta semana estive novamente imersa no Medusa, da Annie Lennox Subindo a Grajaú-Jacarepaguá, me arrepiei ouvindo de Thin Line Between Love and Hate. Percebi que nunca estaria naquela situação, mas que continuo uma apaixonada por um mesmo tipo de relacionamento.Aquele que está plenamente descrito em Achtung Baby. Esta semana, mais precisamente no fim de semana, voltei a me comunicar com uma pessoa particular. Ainda tenho dúvidas sobre o que me leva a falar com ela. Se é aquele velho esquema de "de alguma forma ter ainda um tipo de ligaçào com você".Gostaria que não fosse isso. Mas levando-se em consideração a doença que me acomente há alguns anos, não posso descartar esta possibilidade. Na verdade gostaria de me afastar das referências. Elas são nostálgicas ou remetem a algo que foi, aconteceu, esteve... Algo que TE LEMBRA alguma coisa. Mesmo que essa lembrança seja de algo que ainda está no presente. Enquanto não me curo fico buscando saídas desesperadas, totalmente ADOLESCENTES. Cada dia me descubro mais adolescente e vejo que ainda não consegui abrir mão desta identidade maldita. |